Pandemia: proibir venda de bebidas alcoólicas, mas manter igrejas abertas funciona?

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Há quem diga que as igrejas respeitam as regras de biossegurança. E também quem argumente que, se for pensar assim, escolas poderiam abrir

Algumas prefeituras em Mato Grosso adotaram como estratégia de combate à pandemia do novo coronavírus a proibição da venda de bebidas alcoólicas. Mas, em detrimento disso,  atividades que formam aglomeração continuam liberadas, como os cultos religiosos.

A pergunta que fica é: do ponto de vista da contaminação, qual a diferença entre reunir pessoas em um bar ou em casa das reuniões que ocorrem dentro de igrejas?

Professora da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), epidemiologista e virologista, Ana Cláudia Pereira Trettel avalia que qualquer tipo de aglomeração – principalmente neste período de auge da pandemia – representa um risco.

Entendo que qualquer atividade que gere aglomeração de pessoas deva ser proibida. Neste momento, enquanto a gente não sair deste cenário de alto risco em que Mato Grosso está, academias, igrejas, ou qualquer outra atividade que reúna pessoas deveria ser proibida. Não pode fechar uma coisa para compensar outra“, argumenta.

“Se a gente parar para pensar, a quantidade de pessoas dentro de uma igreja é maior que dentro de uma sala de aula”, ela continua, lembrando que escolas e universidades, públicas e privadas estão fechadas desde março.

Professora Ana Cláudia Trettel defende que todas as atividades que causem aglomeração permaneçam fechadas (Foto: arquivo pessoal)

Para a pesquisadora, o que tem pesado nas decisões dos gestores municipais é a ideologia política e religiosa que, muitas vezes, pode ser traduzida em moralismo e até mesmo em votos. Afinal, as eleições de 2020 foram adiadas, mas ainda serão neste ano.

“As questões ideológica e religiosa estão influenciando os decretos. Cada pessoa tem sua cultura instituída e sua diversidade de informações. Como estamos tendo uma diversidade de informações sendo postas pelo governo federal e estadual, o municipal vai ser influenciado e seguir a vertente que ele acredita mais”, ela pondera.

Igrejas são importantes, bares também!

Prefeito de Lucas do Rio Verde, Luiz Binotti (PSD) é um defensor da manutenção das igrejas abertas. No último domingo (12), ele decretou a proibição por 15 dias da venda de bebidas alcoólicas na cidade, mas não mandou fechar as portas das igrejas.

“Vejo que precisamos cuidar do lado espiritual das pessoas e, se não fizermos isso, daqui alguns dias vai aumentar o número de casos de depressão”, ele disse ao LIVRE, defendendo o Decreto 10.282/20, do governo federal, que reconhece cultos religiosos como atividades essenciais.

Município de Lucas do Rio Verde, localizado a 330 quilômetros de Cuiabá (Foto: Ascom)

“Aqui, as igrejas ficaram fechadas por um período, mas foram liberadas. Vejo que poucas pessoas estão indo. E as igrejas estão seguindo os protocolos”, ele completou.

Questionado se fechar bares e manter igrejas abertas não soa como moralismo, o prefeito admitiu: “são todas medidas que, no fundo, ninguém sabe ao certo quais são os efeitos”.

Mas Binotti se valeu do bom humor para declarar que, mesmo com todos os bares e distribuidoras fechadas em Lucas do Rio Verde, a cidade mais próxima esta a 60 quilômetros de distância, portanto, ele ainda “corre o risco” de alguém se aventurar a comprar bebida na cidade vizinha.

“Afinal, cerveja também é um forma de terapia”, concluiu.

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