Tentante: 10 dicas para tornar a espera pelo teste positivo menos angustiante

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Descubra como aguardar pelo positivo com mais serenidade e saiba quando é hora de buscar ajuda

Por Daniele Zebini

 

O caminho para engravidar até parece simples: basta ter relações no período fértil, esperar o atraso da menstruação, fazer o teste e pronto! Baby a caminho. Mas, na prática, não é linear assim. “A taxa de gravidez gira em torno de 18% a 20% em mulheres com menos de 35 anos, independente de ser o primeiro filho. Então, em um ciclo menstrual, existe 80% de chance dela não engravidar”, explica a ginecologista e obstetra Renata Lopes, da Maternidade São Luiz Star, da Rede D’Or (SP).

Diante dessa estatística, é natural que a ansiedade tome conta de quem deseja engravidar. E quando a espera se prolonga, o medo de um possível problema começa a surgir. No entanto, a dificuldade para conceber nem sempre é sinal de infertilidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada seis pessoas no mundo enfrenta essa condição, que pode ter causas masculinas, femininas ou combinadas. “A concepção é um processo delicado e multifatorial. Demorar alguns meses para engravidar não significa que tem algo errado. E, se houver, existem tratamentos, acompanhamentos e suporte de profissionais para ajudar”, tranquiliza a psicóloga Talita Tatiyuwa, psicanalista e especialista no atendimento de mulheres tentantes.

Ainda assim, para muitas, a frustração e a insegurança crescem a cada ciclo sem um resultado positivo. Isso se dá, em parte, porque pouco se fala sobre a possibilidade de não engravidar rapidamente. “Crescemos com medo de uma gestação fora de hora, capaz de trazer impactos na nossa vida. Falamos tanto sobre o que precisa ser feito para evitar, mas ninguém explica o que fazer para engravidar. E aí, quando você decide que está pronta para ter um filho, muitas vezes descobre que não é tão fácil assim”, diz a diretora de marketing Cecilia Prado Peccicacco, 32 anos, tentante há seis meses.

O que pouca gente sabe é que a ansiedade gerada por essa espera pode, ela mesma, se tornar um obstáculo. Um estudo publicado na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil mostra que o estresse intenso é capaz de levar à paralisação temporária das menstruações, resultando em uma infertilidade transitória. Ou seja, quanto maior a pressão, maior a dificuldade de engravidar. Sabemos que essa jornada é desafiadora, muitas vezes, mas há formas de torná-la menos angustiante. Para tornar esse momento mais leve, preparamos uma lista com 10 dicas. E lembre-se: seu parceiro (ou parceira) também tem papel fundamental nesse processo. Que tal compartilhar esta reportagem com ele (ou ela)?

1. Faça uma consulta pré-concepcional

 

Ela deve ser feita preferivelmente seis meses antes de iniciar as tentativas. Na ocasião, o ginecologista faz uma anamnese completa dos antecedentes e solicita exames gerais e específicos pré-concepcionais, independente de ser a primeira, segunda ou terceira gestação. “Com esses resultados, a mulher vai ser suplementada adequadamente. Essa ação isoladamente já diminui a incidência do bebê ter malformações do sistema nervoso central e do coração em até 80%, por exemplo”, explica a ginecologista e obstetra Renata Lopes. Além da suplementação, a futura tentante recebe as orientações necessárias para engravidar, indicações de vacinas, tratamento de alguma doença em curso – como anemia ou infecção ginecológica – e correção do estilo de vida, como alimentação, exercício físico, sono, hábito intestinal e estresse.

2. Mantenha atividades ou projetos que tragam felicidade

 

É claro que, a partir do momento em que você decide engravidar, essa passa a ser sua prioridade. Foi assim com a coordenadora Roberta Fernandes Ferreira Pinto, 43 anos. Ela já era mãe de Alice, 8, de quem engravidou no terceiro mês de tentativas, quando decidiu partir para uma nova gestação. Foram três anos de espera, com três perdas gestacionais pelo caminho. “Acabei entrando numa neura de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Porque, quando você é tentante, a sua vida gira em torno disso. Hoje, sei que é um processo e que uma hora vai acabar, seja numa gravidez natural, uma fertilização invitro (FIV), seja no caminho que você escolher”, diz Roberta que, finalmente, está vivendo a esperada gestação de Davi, que deve nascer em maio.

Para evitar focar somente na futura gravidez, busque atividades ou projetos que tragam prazer e dê espaço para novas experiências, como um curso, por exemplo. “O que muitas tentantes costumam dizer é que sentem como se tivessem parado a vida em busca desse sonho, mas depois percebem que o tempo passou e todos os outros projetos ficaram parados. Isso gera mais frustração”, completa a psicóloga Talita Tatiyuwa. Que tal, ainda, encontrar amigos que não estão no mundo da maternidade? Você irá se reconectar com a mulher que existe em você e ver que a vida vai além da vontade de ser mãe. A tentante Cecília, do começo da reportagem, admite que é impossível não ficar ansiosa, mas busca esse equilíbrio: “Mantenho a minha rotina, faço meus exercícios e trabalho”, afirma.

3. Informe-se

 

Saber o que esperar até a chegada do positivo é valioso. A expectativa vai existir sempre, mas o fato de entender as etapas do processo e fazer tudo o que está ao seu alcance traz serenidade. “A mulher que leva com mais tranquilidade é aquela que fez uma consulta preparatória, está suplementada, fez as pesquisas necessárias e entende seu período fértil. Ela faz o que precisa ser feito e, assim, não se cobra tanto”, diz Renata.

4. Aceite o tempo do seu corpo

 

“Para quem está no processo, parece que todo mundo engravida, menos você. É primo, irmã, colega. E quando contam é terrível, porque você fica feliz pela conquista, mas triste porque continua na espera”, confessa a psicóloga e empresária Camila Aragão Pansica, 34. Tentante há cinco anos, ela concluiu uma etapa da FIV e está com quatro embriões congelados, prontos para serem transferidos, provavelmente no segundo semestre deste ano.

Apesar desse sentimento de frustração ser inevitável, muitas vezes é preciso um exercício de não se comparar e seguir o seu caminho. “O mais importante é cuidar da saúde física e emocional, ter um bom acompanhamento e lembrar que cada corpo tem seu próprio tempo”, explica Talita.

5. Preserve a sua mente

 

Ao dividir o processo com os amigos e parentes, todos passam a criar expectativas. A gestora empresarial Ingrid Anacleto, 31, não demorou a perceber que precisaria estar com a mente em dia para encarar a situação. “Fazer terapia me ajudou a entender que não precisava lidar com a ansiedade do outro. Já me adiantava e explicava em que fase do processo eu estava para que ninguém ficasse me perguntando”, conta. Depois de três anos tentando, ela está grávida de Cecília, que deve nascer em julho.

É justamente para evitar cobranças alheias que muitas mulheres acabam se isolando. Apesar da decisão de como atravessar essa jornada ser muito individual, considere compartilhar como se sente com quem você realmente confia e se sinta confortável. Receber amor e acolhimento nessa fase são um respiro e tanto. “Poder falar ajuda a elaborar as decisões e encontrar formas de lidar com as emoções. Ninguém precisa passar por tudo isso sozinho”, completa a psicóloga e psicanalista Talita Tatiyuwa.

6. Não exagere nos testes de gravidez

 

O hormônio da gravidez, o beta HCG, começa a ser detectado no organismo cerca de dez dias após a concepção. No entanto, a recomendação é esperar um pouco mais para realizar o teste. “Para evitar resultados duvidosos, limítrofes, e gerar ainda mais angústia, é consenso fazer o teste de gravidez com um dia de atraso menstrual”, aconselha a ginecologista e obstetra Renata Lopes, da Maternidade São Luiz Star, da Rede D’Or (SP). Isso porque, se feito cedo demais, o exame pode resultar em um falso negativo, aumentando a incerteza e ansiedade. E uma última dica: evite fazer estoque de testes em casa. O ideal é comprá-lo apenas se houver atraso na menstruação.

7. Conecte-se com seu parceiro

 

O desafio aqui é não tornar o ato sexual algo mecânico, com o único objetivo de engravidar. “A saída para não se perder no caminho é manter um tempo de qualidade juntos, viver coisas que gostam e continuar investindo na relação. Considerando que esse é um sonho dos dois, o casal precisa de conexão para que as decisões ocorram em consenso”, aconselha Talita. E, se for o caso, busquem uma terapia de casal.

8. Cuide de você

 

Haja energia física e emocional nesse processo. Não esqueça de recarregar as baterias. E aí vale tudo: hidratação nos cabelos, uma soneca demorada no fim de semana, massagem, ioga, meditação, uma viagem para visitar aquela prima que faz tempo que não vê… O importanteé que seja algo que faça bem.

9. Busque grupos de apoio

 

Família e amigos são uma boa escuta, mas ninguém conseguirá entender e acolher você como quem está passando pela mesma situação. Os grupos de apoio são espaços de fala, escuta, trocas, validação dos sentimentos e emoções, onde é possível abrir o coração sem se sentir julgada. Mais do que isso, você percebe que não está sozinha nessa jornada. Tentante desde 2018, a analista acadêmica Jessica Lima da Rosa, 34, encontrou em um grupo de apoio o suporte psicológico para superar a endometriose e o luto de duas perdas gestacionais. “A terapia, as mulheres, as vivências, as trocas, são importantes para sabermos que não estamos sozinhas”, diz.

10. Abrace a sua dor

 

Não adianta fingir que ela não existe. Reconhecer e validar o seu sentimento é fundamental. “Cada mês de espera, cada etapa dessa caminhada pode ser muito frustrante, desgastante e envolve lutos simbólicos para assimilar e cuidar. É preciso respeitar seus limites, reservar tempo para recarregar as energias da forma que você encontrar e buscar ajuda adequada”, diz a psicóloga.

11. Dê uma pausa

 

Se perceber que o objetivo de engravidar tomou conta da sua vida, é hora de dar um tempo. As pausas são necessárias para refletir com calma sobre os próximos passos. Claro que isso só vale se o tempo não for uma variável crucial para o seu processo de tentativas. Segundo a ginecologista e obstetra Renata, muitas vezes, as mulheres engravidam justamente nesse período de pausa. “Sem o excesso de cobrança, ela não está sob o efeito da adrenalina, do cortisol, da ansiedade, e aí a gravidez acontece.”

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